sábado, 22 de fevereiro de 2014

Medo da morte ou do morrer?




Muitas são nossas angústias, nenhuma delas, porém, se compara com a angústia da certeza da morte. Não à toa o filósofo alemão Martin Heidegger já afirmou que o homem é o ser para a morte. Sabemos que, mais cedo ou mais tarde, todos nós morreremos. Diante dessa realidade somos impotentes. Apenas carregamos dentro de nós o sonho da imortalidade. Parece que no fundo não nos conformamos com o fim de nossa existência neste mundo. Há uma verdadeira “rebelião existencial”. Por isso mesmo outro filósofo, dessa vez o brasileiro Lima Vaz, vai preferir definir o ser humano como “o ser para a eternidade”. Mas vou pedir licença aos dois filósofos e viajar nas palavras do teólogo-poeta Rubem Alves. Devíamos temer mais “o morrer” do que a morte. Importa, na verdade, morrer serenamente, sem dores, humilhações, isolamentos em leitos frios de UTIs, por exemplo. Por isso o poeta vai dizer que não tem mais medo da morte, mas DO morrer. E ele continua, como somente os poetas sabem fazer: “Eram seis da manhã. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: ‘Não chore que eu vou te abraçar...’. Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade porque lá a gente fica longe dessa terra tão boa...”. Talvez seja mais humano nos preparar para o morrer do que ficar fugindo da morte. E lembremos que desde a perspectiva cristã, a morte já foi vencida. Ela não tem a última palavra sobre o ser humano. Falando com Marta, irmão de Lázaro, Jesus afirmou: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre" (Jo 11, 25-26). E Jesus pergunta ainda: "Você acredita nisso?" A resposta de Marta foi afirmativa. E a sua?



1 comentários:

Anônimo disse...

Adorei a reflexão padre Moésio. Gostaria de fazer uma observação. Antes de afirmar que o ser humano é um ‘ser para a morte’, Martin Heidegger afirmou que o ser humano é, fundamentalmente, um ser de possibilidades.
O ser humano nunca está à mão como uma ferramenta, um martelo por exemplo. O ser humano nunca poderá ser categorizado definitivamente como um ente, uma coisa, um objeto. Nunca poderemos ser totalmente objetivos em uma definição que lhe contorne todas as arestas e que nos possibilite dizer ‘o ser humano é assim e assado’. A morte está no horizonte ontológico e existencial como uma possibilidade do ser humano. Neste sentido, a morte exerce uma força tremendamente positiva que nos devolve para a vida, para a existência, para o bem. Nos impulsiona a dar sentido à existência. Embora seja inevitável, podemos escolher que tipo de morte queremos ter e podemos nos preparar - Viver. No horizonte ôntico a morte é fatalismo, a única saída, “o fim” – mas não um fim. No horizonte do ser possível a morte é possibilidade de vida e, portanto, para quem crê, é uma possibilidade do morrer para a vida, dando vida, ressurgindo em nome de Jesus.

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