terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sede de Deus


"Mostra-me os teus caminhos, Javé, ensina-me as tuas veredas. 
Guia-me com tua verdade. Ensina-me, pois tu és o meu Deus salvador" (Sl 25,4). 


O desejo do salmista expressa por um lado a busca humana da vontade de Deus (Senhor, o que queres que eu faça? At 22,10) e, por outro, a intuição de que essa só pode vir da automanifestação do Eterno. Antes de tudo não somos nós que conhecemos a Deus, mas é ele mesmo que se dá a conhecer. É dele a livre iniciativa. O convite é que nos deixemos guiar por Ele. Lembremos que os caminhos de Deus não são antagônicos aos nossos. A vontade de Deus não se apresenta como uma usurpadora da liberdade humana. Por isso mesmo não convém apresentar a vontade do Senhor como se fosse um ato arbitrário. Parece ser uma ilusão humana a total compreensão de Deus, de seus projetos, de sua vontade. Não seria esse desejo um resquício do desejo de ser "como Deus" e conhecer os segredos da "árvore do bem e do mal"? (Gn 3,5). Mas, se Deus quis se autorrevelar, por que permaneceria "inacessível" às suas criaturas racionais? O "prescrutar" os caminhos do Senhor mais do que uma pretensão racionalista pode simplesmente manifestar nossa parcela de divindade que Ele mesmo nos fez participar ao nos doar "o sopro da vida" (Gn 2,7) e a nos querer "a sua imagem e semelhança" (Gn 1,26). Nossa compreensão dos mistérios de Deus pode nem ser completa, mas nem por isso ela se mostra desnecessária ou irrelevante. Assim também pensava santo Anselmo: "Não tento, Senhor, penetrar tua profundidade, pois de modo nenhum minha inteligência pode medir-se com ela; mas desejo compreender em certa medida tua verdade, que meu coração crê e ama. Não procuro compreender para crer, mas creio para compreender. Pois creio de tal modo que, se não cresse, não compreenderia".

Prof. Dr. Pe. Moésio Pereira de Souza, redentorista.

4 comentários:

Unknown disse...

Boa iniciativa. Parabéns que esse espaço possa nos ajudar mesmo a crer e entender de forma saudável, sem exageros de nenhuma natureza.

Anônimo disse...

Obrigado pe Moésio. Lindas palavras. Deus deseja que estejamos abertos para os mistérios que fundamentam nossa fé.

Anônimo disse...

Adorei a reflexão padre Moésio. Gostaria de fazer uma observação. Antes de afirmar que o ser humano é um ‘ser para a morte’, Martin Heidegger afirmou que o ser humano é, fundamentalmente, um ser de possibilidades.
O ser humano nunca está à mão como uma ferramenta, um martelo por exemplo. O ser humano nunca poderá ser categorizado definitivamente como um ente, uma coisa, um objeto. Nunca poderemos ser totalmente objetivos em uma definição que lhe contorne todas as arestas e que nos possibilite dizer ‘o ser humano é assim e assado’. A morte está no horizonte ontológico e existencial como uma possibilidade do ser humano. Neste sentido, a morte exerce uma força tremendamente positiva que nos devolve para a vida, para a existência, para o bem. Nos impulsiona a dar sentido à existência. Embora seja inevitável, podemos escolher que tipo de morte queremos ter e podemos nos preparar - Viver. No horizonte ôntico a morte é fatalismo, a única saída, “o fim” – mas não um fim. No horizonte do ser possível a morte é possibilidade de vida e, portanto, para quem crê, é uma possibilidade do morrer para a vida, dando vida, por amor, ressurgindo em nome de Jesus.

Unknown disse...

Acredito que o ser Humano está sempre em busca de sua plenitude. Ele busca aquilo que lhe completa em todos os sentidos. E essa busca em última instancia de maneira absoluta nos conduz a Deus. E na relação interpessoal que o ser humano mantem com Deus, que ele encontra o sentido último de seu existir. Gostei de seu Blog Pe. Moesio Pereira. Parabéns.

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