domingo, 28 de dezembro de 2014

A família de Nazaré e as nossas famílias



Hoje a Igreja nos convida a continuar olhando a cena do presépio e aprender daqueles três personagens principais como amar mais a Deus, como ser totalmente dEle. Acredito que é nisto que consiste a grandeza dessa família e ao mesmo tempo a esperança de que também nossas famílias possam transmitir muito do amor de Deus.

Jesus nos ensinou que Ele mesmo não tinha outro desejo senão fazer a vontade do Pai. Esse era seu alimento. Mesmo diante da angústia da morte, ele voltou seu olhar para o Pai e entregou-se completamente a sua vontade.

Maria, a mãe do belo amor, mesmo sem entender claramente os desígnios de Deus para ela, aceita que tudo aconteça segundo a Palavra do Pai que a escolheu entre todas as mulheres, para gerar em seu ventre o nosso salvador.

José, o homem do silêncio, também vive de seu sim à vontade de Deus. Acredita na palavra de Deus e acolhe Maria e seu filho como se dele fosse, tudo para que se cumprisse o que Deus havia designado.  

Nossas famílias também podem ser instrumento de Deus para a salvação do mundo. Toda vez que dizemos sim ao que Deus quer de nós e permitimos que a luz de Deus, sua paz e seu amor se espalhem ao nosso redor, estamos também construindo uma família sagrada. Por isso Padre Zezinho cantou muito bem: “Tudo seria bem melhor se o natal não fosse um dia; se as mães fossem Maria e se os pais fossem José; e se a gente parecesse com Jesus de Nazaré”. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Maria, a bem-aventurada




Hoje, continuando nosso percurso espiritual em preparação para o natal do Senhor, encontramos a figura de Maria, mãe de Jesus. Este bonito relato do encontro entre as duas futuras mães ajuda-nos a manter o foco no que é essencial (Lc 1,39-47).

Isabel fica cheia do Espírito Santo ao ouvir a saudação de Maria (v. 41). A presença de Maria é sinal de bênção. Ela carrega em seu ventre o Salvador. Isabel reconhece a grandeza daquela que para Deus é um instrumento de salvação: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (v. 43). Isabel ainda não havia compreendido que não se trata de mérito. Na verdade, ninguém merece. Nem ela, nem eu, nem você. Ninguém. É simplesmente graça. Maria é escolhida como mãe de Jesus não por seus méritos; nós não nos tornamos filhos de Deus devido aos méritos próprios, mas por graça de Deus (Gl 4,7).

A prima de Maria acertadamente nos lembra do essencial: Maria é bendita porque acreditou; porque confiou na palavra do Senhor. Assim somos nós. Somos benditos sempre que acreditamos no que o Senhor nos fala e somos capazes de levar essa palavra aos outros. Nesse tempo do advento, vamos nos preparando para, a exemplo de Maria, sermos instrumentos da presença de Deus na vida das pessoas; a exemplo de Isabel, reconhecer as graças que Deus realizou na vida de Maria e quer realizar na vida de cada um de nós.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Advento: tempo de semear esperança

Fonte: http://mensagemdeus.blogspot.com.br/2012/12/deus-nunca-nos-abandona.html


Nosso cotidiano muitas vezes aparece marcado pela violência, pela corrupção, pela injustiça e tantos outros sinais que acabam nos levando a dizer: Não tem mais jeito. Nesse contexto onde presenciamos tanta dor e sofrimento, sobretudo quando olhamos para os mais abandonados de nossa sociedade, resta-nos lutar para não desanimar.

É neste momento que a força da Palavra de Deus se faz ouvir e sentir. Do grito da palavra profética ressurge nossa esperança e nossa confiança inabalável nas promessas de Deus. Mesmo em um contexto diferente do nosso, a realidade da profecia de Isaías se mostra de uma atualidade imensa. Assim diz o Senhor por meio do profeta: Pobres e necessitados procuram água, mas não há, estão com a língua seca de sede. Quem deles cuidará? Onde estão os pastores do povo? A boa notícia que a Igreja anuncia nesse tempo do advento é que o próprio Deus será o pastor de seu povo, ele mesmo cuidará dos necessitados: Eu, o Senhor, os atenderei, eu, Deus de Israel, não os abandonarei. Farei nascer rios nas colinas escalvadas e fontes no meio dos vales; transformarei o deserto em lagos e a terra seca em nascente d’água (Is 41, 17-18).

Mergulhar na espiritualidade do advento pode ser um modo de não deixar morrer em nós a esperança, de continuar acreditando em meio aos desertos da vida e, sobretudo, uma maneira de fazer ressoar em nós e no mundo onde estamos, a palavra da esperança: “eu, Deus de Israel, não te abandonarei”.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Retomando o caminho



Alguns leitores do blog reclamaram porque deixei de postar. Então, atendendo aos pedidos, retomamos nossas reflexões. Creio que o tempo do advento se constitui como um "tempo favorável". Minha intenção é fazer uma postagem em cada uma das semanas desse tempo litúrgico. O objetivo é compartilhar algumas luzes para nossa preparação em vista da grande celebração do natal do Senhor. Bem, estamos de volta


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Usar um terço pendurado no retrovisor do carro é sinal de fé?

Fonte: http://revista.pensecarros.com.br/


Quem nunca entrou em um carro e se deparou com um terço pendurado no retrovisor? Isso é muito comum. Algumas pessoas preferem, ao invés, colar adesivos com o coração de Jesus e de Maria ou mesmo de um santo de sua devoção. Mas qual o sentido disso? Isso significa necessariamente um ato de fé? Fé em quê?

Pode ser que não nos demos conta de que nossa fé ainda aparece recheada de elementos de pura superstição que nada tem da fé de Jesus de Nazaré. Por exemplo, se alguém coloca o terço no retrovisor pra “proteger” o carro, a fé está focalizada no objeto. Então isso é superstição. A pessoa acredita que aquele objeto tem um poder sobrenatural.

Por isso vemos tanta gente com terço dentro dos carros e dirigindo imprudentemente, desrespeitando as leis de trânsito e pondo sua vida e a dos outros em risco. O amuleto dá a falsa segurança de que nada de mal vai acontecer com aquele veículo porque ele está “protegido”. Mas nós, cristãos, não cremos em amuletos!!!

Se o terço ou o adesivo do seu carro tem essa finalidade, é melhor repensar sua fé! Deixe-o se ele ajuda você e quem está no seu veículo, a lembrar de Deus e da necessidade de dirigir responsavelmente para preservar a vida, dom maior de nosso Deus.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Vamos a Betânia?

Fonte: http://wallpaper4god.com


Muitos lugares na Sagrada Escritura têm um significado que vai além do geográfico. Assim é Betânia, cidade citada no texto do evangelho que a liturgia da Igreja oferece para nossa oração de hoje (Jo 12,1-11).  Betânia é lugar de amizade sincera, de acolhimento e de encontro que enaltece. Um dos possíveis significados do nome Betânia é “casa dos pobres”. Segundo os Evangelhos, Jesus costumava passar por lá e visitar seus amigos Marta, Maria e Lázaro. (Mc 11,1; Mt 21,17; Lc 19,29; 24,50; Jo 11,1.18).

Em Betânia aprendemos que acolher bem os visitantes é uma coisa boa. Mas lá o mestre ensinou também, que as ocupações da vida não podem tirar o tempo que precisamos para ouvir sua Palavra (Lc 10,38-42).

Na casa de Betânia descobrimos que o amor é como um perfume que se espalha por todo canto. Um amor gratuito que não faz cálculos mesquinhos: “Será que eu vou ganhar mais do que eu estou dando”? “Como será que ele vai retribuir”? Trata-se de um amor que sabe dar do que tem de mais valioso, como o fez Maria, a irmã de Lázaro. Lá aprendemos a importância de ficar de joelhos e mostrar carinho a quem amamos.

Quando vamos a Betânia, somos questionados sobre nossos interesses. Percebemos que nem sempre nossas boas ações são verdadeiras. Pode ser que, a exemplo de Judas, estejamos usando os outros para parecer “pessoas boas”, preocupadas com os pobres, mas de olho no que isso vai render para nós.
O perfume do amor generoso e gratuito que exalou daquela simples casa em Betânia, espalhou-se para além dos muros da Jerusalém antiga e chegou até os “quatro cantos do mundo” com a vitória de Jesus. Quem vai a Betânia torna-se testemunha de que o amor é mais forte do que a morte.

Durante esta semana, somos convidados a fazer de nossa casa e de nosso coração uma “Betânia”, para aprender a acolher, a amar gratuitamente, a adorar e a crer em Jesus.

domingo, 13 de abril de 2014

Por que Jesus entra em Jerusalém montado em um jumentinho?

Fonte: http://www.jmfurtado.com

Seguindo a narração de Mateus da entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21,1-11), uma pergunta merece nossa atenção. De fato, ao ver uma multidão festejando a chegada de Jesus alguém interroga: “Quem é este”? A resposta plena, porém, somente poderá ser dada após o domingo da Ressurreição.

Mas sabemos que Jesus, de vários modos, foi conduzindo as pessoas para que elas mesmas pudessem descobrir quem na verdade ele era.  Não gostava de fazer propaganda em causa própria, não saiu pelos povoados e vilas se autoproclamando o Salvador. Cada um de nós tem que dar sua própria resposta a essa pergunta desconcertante: “Quem é este”?

No trecho mencionado, Jesus pede aos discípulos que lhe tragam uma jumenta e um jumentinho. Ora, entrar na cidade nesta montaria tem um significado bem mais profundo do que um gesto de humildade. De fato, fazendo isto Jesus está cumprindo uma profecia a respeito do Messias. No livro do profeta Zacarias, encontramos o seguinte texto: “Exulta muito, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta” (Zc 9,9-10). Era como se Jesus dissesse: Eu sou o Messias esperado!!!

Mas então, por que muitos não reconheceram Jesus como o Messias prometido pelos profetas? A dificuldade surge porque muitos estão fechados em suas próprias ideias sobre como deveria ser o messias. Só acredita em Jesus quem se mostra capaz de renovar sua mentalidade, quem é capaz de ir além dos padrões religiosos estabelecidos. Jesus é realmente o Messias, mas o messias que se identifica com o “Servo sofredor” (Is 42,1-4; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12), e não com um Messias poderoso e triunfal como muitos acreditavam e acreditam até hoje!

Fazer memória desse gesto de Jesus ajuda-nos a rever nossas ideias atuais sobre Ele e o seu poder. Muita gente em nossos dias está presa as suas próprias ideias ou às doutrinas estabelecidas pelas diversas religiões e com isso sentem dificuldade em fazer a experiência do Deus de Jesus, que mostra sua força e sua glória por meio da fraqueza do amor que se abaixa e se faz pequeno. Não basta aclamar “Hosana ao Filho de Davi” nem proclamar: “Tu és o Messias”. O que Jesus pede é que assumamos o mesmo estilo de vida dele, que fez do poder, serviço aos outros, principalmente aos mais abandonados: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,15).

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Com minha mãe, na rede, aprendi a rezar





Ainda lembro, mesmo com o passar dos anos. Deitado na rede aprendi minhas primeiras orações. Toda noite minha mãe rezava comigo o Pai-Nosso e a Ave-Maria. A oração vinha acompanhada pelo movimento da rede impulsionada pelo pé de minha mãe na parede. O armador rangia, mas a voz forte de D. Irismar chegava suave ao meu ouvido. No "regaço acolhedor de minha mãe" aprendi a levantar a mão pro céu e pedir a bênção: "Bênça" Papai do Céu! "Bença" Mamãe do céu". E em seguida, gritando para poder o pai ouvir, vinha o pedido pela bênção terrena: "Bença pai" e finalmente estirando a mão para ela terminava pedindo: "Bença mãe". Como precisamos de bênção! Estamos ficando frios e autossuficientes. Parece até que já não queremos ser abençoados. Convido você agora para rezar entregando todo o seu dia como uma oferenda ao Senhor. E com confiança pedir a bênção dEle. "Em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, Javé, me fazes viver tranquilo (Sl 4,9). Click no link acima e ouça uma linda oração!

terça-feira, 8 de abril de 2014

“Tive maus pensamentos. Isso significa que já pequei?”


Fonte: http://diellyfontes.blogspot.com.br/


Algumas pessoas tem muita dificuldade na vida espiritual por conta dos “maus pensamentos”. Julgam que porque pensaram em fazer algo que não é bom, já cometeram o pecado. Falei no post anterior que o pecado não se identifica com o sentir, mas com o consentir.

Mas então qual a razão de rezar pedindo perdão porque pecamos “muitas vezes por pensamentos e palavras”? Quero partilhar com você hoje o ensinamento dos antigos monges da Igreja que são verdadeiros mestres espirituais. Espero que lhe ajude a viver mais tranquilamente com seus “maus pensamentos”.  Segundo esses mestres espirituais, para que a maldade penetre em nosso coração há um caminho em quatro etapas. Preste bem atenção!

A primeira etapa chama-se “sugestão”. É o momento em que a ideia de fazer algo ruim chega a nossa mente. Imaginemos que alguém viu onde um colega guardou uma determinada quantia e “pensou” em ficar com esse dinheiro. A pessoa ainda não pecou realmente por ter tido esse “mau pensamento” (ficar com o dinheiro que não lhe pertence). Ela foi tentada a fazer algo; mas ela ainda não decidiu se vai fazer ou não. Ela teve um mau pensamento!

A segunda etapa tem o nome de “conversa” ou “colóquio”. A pessoa do exemplo acima começa a pensar: “Eu estou precisando, vai me ser útil, poderei comprar algo que está me fazendo falta etc”. Mas a pessoa não tem condição de tomar uma decisão: pego ou não o dinheiro? Ainda está indecisa. Não podemos falar ainda em pecado neste estágio.

A terceira etapa recebe o nome de “combate”. É aquele momento em que o pensamento de ficar com o dinheiro insiste em ficar “martelando” a cabeça da pessoa. Trava-se um “combate interior” entre a sugestão de pegar o dinheiro e a vontade de resistir e não pegar aquilo que não lhe pertence. Nesse momento a vontade tem que ser forte e somente assim a pessoa pode vencer a tentação e não cair no pecado.

A quarta e última etapa chamamos de “consentimento”. Uma vez perdido o “combate” a pessoa decide cometer o ato sugerido pelo seu “mau pensamento”. Somente nesse estágio podemos falar em pecado em sentido estrito. E a partir desse momento, mesmo que algo exterior aconteça para impedir a concretização do ato, o pecado já foi cometido porque aconteceu no interior do coração; porque a pessoa já deu seu consentimento à malícia da sugestão.

Portanto, não basta pensar para pecar. Nas palavras do Padre Tomás Spidlik: “A pessoa é essencialmente aquilo que decide e não aquilo para o qual a atração dos sentidos a leva (...). Diante de Deus a pessoa é aquilo que livremente quer e não aquilo que sente contra a própria vontade”. Apesar de toda nossa fraqueza, ainda nos resta um pouco de liberdade para decidir. Ter consciência disso se mostra fundamental para o crescimento de nossa vida espiritual.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

“Bem-aventurados os puros de coração II”






Creio que muitos de nós já experimentamos a sensação de estar com o coração carregado de sentimentos que nos causam mal e nos levam a agir de modo inadequado com os outros. Sentimos que nosso coração se enche de angústia, de raiva, de rancor, de mágoa. Nosso coração outras vezes se mostra invadido por pensamentos de vingança, de cobiça, de luxúria etc. Mas nossa própria experiência nos ensina que isso não é bom e que nosso coração precisa ser transformado, purificado.

Na linguagem religiosa, lembrando o livro do Gênesis, podemos dizer que nosso coração (originalmente criado bom) se deixa seduzir pela proposta da serpente; usando outra metáfora bíblica podemos dizer, com os Padres da Igreja, que nosso coração se assemelha à Terra Prometida que muitas vezes sofre um ataque dos seus inimigos: filisteus, babilônios, gregos etc que atiram suas lanças (os maus pensamentos ou más sugestões) contra nós.

Importante lembrar que sendo criado por Deus, nosso coração é bom. A maldade que nele entra por meio dos pensamentos é que o torna impuro e mal.  Então, se não consentirmos que a maldade invada nosso interior, não cometemos pecado. O pecado não está no sentir, mas no consentir. Alguém pode ser tentado a fazer o mal, mas resistir à tentação, como fez o próprio Jesus.

O período da quaresma se mostra uma grande oportunidade para cuidar do nosso coração e do que o ronda; o que habita o nosso coração? Rancor, raiva, mágoa ou alegria, gratidão e amor? Portanto ouçamos o que diz o apóstolo: “Sede vigilantes, permanecei firmes na fé” (1Cor 16,13). Esse é mais um passo importante para se ter um coração puro! 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

“Bem-aventurados os puros de coração” I




Fonte: http://mbasic.facebook.com/


Jesus, em seu grande ensinamento no chamado “sermão da montanha”, afirmou que as pessoas que têm um coração puro são felizes e verão a Deus (Mt 5,8). Ter um coração puro parece ser um dos caminhos que nos deixa próximos da vida divina, ou seja, nos ajuda a permanecer na vida de comunhão com Deus. Por isso encontramos essa oração no livro dos salmos: “Quem pode subir à montanha de Iahweh? Quem pode ficar de pé em seu lugar santo? Quem tem mãos inocentes e coração puro, e não se entrega à falsidade, nem faz juramentos para enganar” (Sl 24, 3-4).

Penso que aqui encontramos uma boa dica para um itinerário espiritual. Mais do que ficarmos preocupados com práticas externas, por mais piedosas que sejam, mostra-se mais profundo e exigente procurar a purificação do coração. Mas o que vem a ser um “coração puro”? Como “purificar o coração”? Claro que a resposta exige mais espaço do que o de um post no blog. Por isso hoje gostaria de lembrar somente uma ideia que, para mim, parece de fundamental importância. O primeiro passo para a “purificação do coração” é um ato de fé. Precisamos crer que, no fundo, a purificação do coração não é obra simplesmente humana, isto é, antes de tudo se configura como um fruto da graça de Deus em nossa vida.

Isso me parece claro a partir do salmo 51. De fato o salmista reza: “Ó Deus, cria em mim um coração puro, renova um espírito firme no meu peito” (Sl 51, 12). O verbo empregado “criar” (do hebraico bārā’é usado apropriadamente somente para Deus, o Criador. É o mesmo verbo que aparece no texto da criação do mundo (Gn 1,1) e na profecia de Isaías sobre a criação do novo céu e da nova terra (Is 65, 17).

Unicamente Deus pode fazer com que nosso coração de pedra se transforme em um coração de carne (Ez 11, 19). Deixando a graça de Deus agir em nós, poderemos, pouco a pouco, fazer a longa e difícil passagem do coração insensível ao coração compassivo; do coração impuro ao coração puro. Mas tudo começa com nossa oração: “Ó Deus, cria em mim um coração puro”. Continuo na próxima postagem.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Como fortalecer minha vida de oração durante a quaresma?




Falei aqui no blog que o tempo da quaresma se mostra uma grande oportunidade para nos aproximar de Deus; um caminho espiritual que favorece uma relação mais íntima com nosso Criador e Redentor.

Mas muita gente pergunta: o que eu preciso rezar para que eu me encontre mais próximo de Deus? Primeiramente gostaria de dizer que podemos conseguir isso sem ter que passar “horas em oração”. O importante não é tanto o tempo, mas a qualidade de nossa oração. O teólogo norteamericano Robert Barron propõe cinco meios que qualquer católico pode usar para viver de modo mais intenso a sua quaresma:

  1. Oração diante de Jesus Sacramentado – cada dia reze alguns minutos na presença do Santíssimo Sacramento. Pode ser também uma vez por semana ou como for mais conveniente para você. A preocupação não é o que falar para Jesus. Tente simplesmente ficar com ele e ouvi-lo;
  2. A oração de Jesus – É uma oração muito antiga. Basta você repetir várias vezes durante o dia: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim, pecador”. Você pode rezar, como um mantra, enquanto trabalha, ou talvez quando estiver esperando o ônibus, preso no trânsito. Não importa. É possível rezar essa oração a qualquer momento e em qualquer lugar;
  3. Também como um mantra você pode rezar várias vezes durante o dia a jaculatóriaVinde, Espírito Santo”.  Simples, como Deus também é, essa oração pode estar em nossos lábios diariamente. Você pode rezar ainda uma oração completa do Espírito Santo, como, por exemplo, aquela que começa “Vinde Espírito Santo enchei os corações dos vossos fiéis...”;
  4. O terço – mesmo que faça algum tempo que você já não reza, aproveite para retomar essa boa prática da piedade cristã e que é igualmente um ato de amor à Mãe de Jesus;
  5. A missa – Se você tem faltado à missa dominical, faça o propósito de não faltar durante a quaresma. Se você está fiel à missa dominical, pode fazer o esforço de ir à missa diariamente.

Esses são cinco meios, você pode pensar em outros. O importante é estar com a mente e o coração voltados para Deus. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Quaresma: um caminho espiritual




Traçar   metas, estabelecer objetivos, focar um alvo. Todas essas são experiências humanas comuns. Para alcançarmos o que desejamos, porém, precisamos escolher os meios mais adequados que estão a nossa disposição. Por exemplo, alguém que quer ser aprovado em um concurso precisa decidir o que fazer para alcançar seu intento: estudar sozinho? Em grupo? Fazer um cursinho preparatório?

Assim também acontece em nossa vida espiritual. Um cristão que busca uma maior intimidade com Deus precisa utilizar os meios que nossa tradição tem descoberto e experimentado ao longo desses mais de 2.000 anos: a oração, a meditação da Palavra, a prática da caridade, os sacramentos etc.

Precisamente, a partir dessa dinâmica, podemos vivenciar o tempo quaresmal como um meio; mas preferimos chama-lo de “caminho” espiritual. O objetivo é fazer uma boa preparação para a celebração da Páscoa do Senhor. Todo cristão sabe da importância capital que é a Ressurreição de Jesus e que convém estar bem preparado para este momento. Então, o meio, ou o “caminho” proposto pela Igreja para conseguirmos este objetivo, é a vivência desse tempo (40 dias) que chamamos quaresma.

Para nos orientar melhor, ela nos convida a intensificar nossa prática da oração pessoal, do jejum e da esmola; lembrando sempre que essas práticas não são meras ações externas, mas fruto de nossa experiência espiritual com o Senhor. Precisamos nos perguntar se agrada a Deus ficarmos um dia todo sem comer se continuamos agredindo nosso próximo, muitas vezes difamando-o; não seria um jejum mais agradável a Deus “repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos” (Is 58,7a)? Preparemo-nos, pois, para a Páscoa do Senhor trilhando essas quatro semanas quaresmais, degrau a degrau, na certeza de que Ele nos acompanha em todo o trajeto (Mt 28,20).

terça-feira, 4 de março de 2014

Pau que nasce torto morre torto?





Esse é um ditado popular muito conhecido. Geralmente ele vem empregado quando queremos dizer que uma determinada pessoa não muda suas atitudes. Como se a pessoa estivesse "programada" ou "condenada" a agir sempre do mesmo jeito. Muitas vezes lembramos algumas ações praticadas por ela durante a juventude, às vezes até mais cedo, e que ainda se repetem na vida adulta. E sem pensar muito somos tentados a repetir: “É assim mesmo: pau que nasce torto, morre torto”. A mensagem central do tempo da quaresma, que iniciamos amanhã, porém, parece nos colocar em outra direção. Senão vejamos. O apelo forte durante esse período de 40 dias visa exatamente exortar as pessoas para uma mudança de vida, para uma conversão. A Igreja proclama a sua fé na possibilidade de o ser humano abandonar um estilo de vida que o escraviza, para um que o liberta. Ensinando assim, a Igreja se coloca no rastro da tradição bíblica que insistentemente relembra o chamado de Deus ao seu povo para que esse se converta; e a confiança do pecador no perdão renovador de Deus. O salmo 50 (51), que conhecemos como “miserere” se revela como uma boa síntese dessa fé bíblica. Temos um pecador que confessa sua culpa: “Tem piedade de mim, ó Deus, por teu amor! Por tua grande compaixão apaga a minha culpa!”(v. 3); uma prece pedindo a purificação interior: “Purifica-me com o hissopo, e eu ficarei puro. Lava-me, e eu ficarei mais puro do que a neve (v. 9); Uma oração de quem sabe que esta purificação é dom, é graça, é obra de Deus: “Ó Deus cria em mim um coração puro, e renova no meu peito um espírito firme” (v. 12); e um compromisso de buscar uma nova vida: “Vou ensinar teus caminhos aos culpados, e os pecadores voltarão para ti. Livra-me do sangue, ó Deus, ó Deus meu salvador! E a minha língua cantará a tua justiça. Senhor abre os meus lábios, e minha boca anunciará o teu louvor. Pois tu não queres sacrifício, e nenhum holocausto te agrada. Meu sacrifício é um espírito contrito. Um coração contrito e esmagado tu não o desprezas” (v. 15-19). No mais, Jesus inicia seu ministério justamente pelo convite à conversão: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Nova”. Lembremos, no entanto, que a conversão é um processo que perdura toda a nossa vida. Mesmo que em um momento sejamos capazes de reconhecer a grandeza de Jesus, e afirmar acertadamente que só ele tem palavras de vida eterna, como fez Pedro (Mt 8,29; Jo 6,68), podemos a qualquer momento negá-lo e dizer que não o conhecemos, da mesma forma que fez o referido apóstolo (Lc 22,57).

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Vamos rezar?


Em mais este dia, renovemos nossa confiança em Deus nosso salvador. Peçamos a graça de permanecer em comunhão com ele e que dele recebamos as luzes e as forças que precisamos para levar adiante o seu plano de amor. Com o salmista rezemos: "Quanto a nós, nós esperamos por Iahweh: ele é nosso auxílio e nosso escudo. Nele se alegra o nosso coração, é no seu nome santo que confiamos. Iahweh, que teu amor esteja sobre nós, assim como está em ti nossa esperança" (Sl 33, 20-22). O vídeo abaixo é uma oração para inspirar seu momento pessoal com Deus, no início desta manhã.


Fonte: youtube - Antônio Arruda

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Brincar carnaval é pecado?





Uma das maiores festas populares do país está se aproximando: o carnaval. Algumas postagens nas redes sociais parecem indicar que um cristão fiel não brinca carnaval. Durante o período carnavalesco quem é de Jesus faz retiro ou fica em casa. Quem faz opção de ir para a folia não tem outra opção senão pecar. Não seria esta forma de ver um pouco exagerada? Necessariamente quem brinca carnaval tem que pecar? O pecado está na brincadeira em si ou no modo como se brinca? Por que então se faz necessário criar um “carnaval de Jesus”? Qual a infidelidade a Deus que alguém comete ao se divertir sem excessos dançando marchinhas de carnaval, por exemplo? Jesus já alertou para o risco que correm aquelas pessoas que se julgam melhores do que as outras porque cumprem rituais religiosos (Lc 18,9-14).  E aos fariseus autossuficientes Jesus lembrou que as prostitutas e os cobradores de impostos iriam precedê-los no Reino dos Céus (Mt 21, 28-32). Por isso mesmo muito cuidado ao julgar quem vai brincar, pois Jesus já falou: “Não julguem para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” (Mt 7, 1-2). Não creio que alguém que brinca carnaval saudavelmente, e isso é plenamente possível, cometa pecado. 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Medo da morte ou do morrer?




Muitas são nossas angústias, nenhuma delas, porém, se compara com a angústia da certeza da morte. Não à toa o filósofo alemão Martin Heidegger já afirmou que o homem é o ser para a morte. Sabemos que, mais cedo ou mais tarde, todos nós morreremos. Diante dessa realidade somos impotentes. Apenas carregamos dentro de nós o sonho da imortalidade. Parece que no fundo não nos conformamos com o fim de nossa existência neste mundo. Há uma verdadeira “rebelião existencial”. Por isso mesmo outro filósofo, dessa vez o brasileiro Lima Vaz, vai preferir definir o ser humano como “o ser para a eternidade”. Mas vou pedir licença aos dois filósofos e viajar nas palavras do teólogo-poeta Rubem Alves. Devíamos temer mais “o morrer” do que a morte. Importa, na verdade, morrer serenamente, sem dores, humilhações, isolamentos em leitos frios de UTIs, por exemplo. Por isso o poeta vai dizer que não tem mais medo da morte, mas DO morrer. E ele continua, como somente os poetas sabem fazer: “Eram seis da manhã. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: ‘Não chore que eu vou te abraçar...’. Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade porque lá a gente fica longe dessa terra tão boa...”. Talvez seja mais humano nos preparar para o morrer do que ficar fugindo da morte. E lembremos que desde a perspectiva cristã, a morte já foi vencida. Ela não tem a última palavra sobre o ser humano. Falando com Marta, irmão de Lázaro, Jesus afirmou: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre" (Jo 11, 25-26). E Jesus pergunta ainda: "Você acredita nisso?" A resposta de Marta foi afirmativa. E a sua?



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Meditação: saber esperar



Fonte: http://www.excellencestudio.com.br/


No início de mais um dia, deixemo-nos iluminar pela Palavra de Deus. A cada amanhecer temos uma nova oportunidade de acolher nossa vida como um dom. Renovemos nossa confiança rezando com o salmista:


"É a ti que eu suplico, Iahweh! De manhã ouves minha voz;
de manhã eu te apresento minha causa e fico esperando..." (Sl 5, 3-4).


Saber esperar é parte importante da vida espiritual. Nem tudo acontece na hora em que queremos. Existe a “hora de Deus”. Quando ainda somos iniciantes no caminho do Espírito, muitas vezes nos afobamos, somos impacientes e vivemos como se tudo dependesse de nossos pobres esforços. Com mais facilidade acabamos agindo somente por nossos impulsos.   Somente quando, mesmo que pouco a pouco, vamos aprendendo a confiar, a esperar em Deus, lembrando sempre que “spes non fallit” - a esperança não decepciona – (Rm 5,5), emerge dentro de nós a paz e a serenidade de quem se deixou encontrar por Deus.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Aula Moral Fundamental - Ética Bíblica

Fonte: http://escoladeprofetasmic.wordpress.com/


Estou disponibilizando algumas ideias que são desenvolvidas durante as aulas sobre "moral bíblica" do curso de Moral Fundamental I na Faculdade Católica de Fortaleza. Não se trata de um artigo, mas de tópicos para serem aprofundados e discutidos em sala de aula.

Click aqui e baixe o texto


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Fraternidade e Tráfico humano


A Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema: Fraternidade e tráfico humano. O vídeo abaixo nos ajuda a entender as motivações da escolha do tema como eixo de reflexão e oração durante o período quaresmal que se aproxima.



Fonte: youtube - canal:elshaddaiweb

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Diante de ti estão a vida e a morte




http://creiaemcristo.com.br/



Diante de ti estão a vida e a morte



É verdade que muita coisa limita nossa liberdade. Uma liberdade absoluta realmente não existe. Mas, ainda que nossa liberdade seja condicionada, nós, seres humanos, não estamos condenados a agir de uma determinada forma. Nossa vida não está nas mãos de uma força superior chamada “destino”, nem mesmo podemos dizer tão facilmente: “foi Deus que quis assim”. Não seria uma grande tentação dos nossos dias retirar nossa responsabilidade e transferir seja para Deus, seja para o Diabo? O livro do Eclesiástico surge aqui como uma boa referência para nos ajudar a pensar melhor. De fato, Deus nos deixa livres e, portanto, responsáveis por nossas escolhas e decisões. Assim diz o sábio: “Diante de ti ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir (...). Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar” (Eclo 15,17-18.21). Nossa vida é feita de escolhas. Algumas acertadas e outras não. Por isso a vida é uma escola e todo dia podemos aprender, mesmo de nossos erros. O esforço de nossa parte é para que aprendamos a fazer mais escolhas certas que poderão nos levar no rumo de nossa felicidade. Lembremos, porém, as palavras do Senhor no Salmo 32,8: “Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você”. Se errarmos ou acertarmos, porém, devemos sempre arcar com as consequências. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ética e Moral: são coisas diferentes?



http://intelectuais.blogspot.com.br/

Esta pergunta sem dúvida surge como uma das mais comuns em nossos cursos sobre teologia moral ou ética teológica. Basicamente há duas posições a respeito. Podemos dizer que alguns estudiosos preferem diferenciar os termos. Nessa perspectiva, moral faz referência a um conjunto de valores assumidos individualmente, enquanto ética relaciona-se ao âmbito social. Com frequência os dois termos aparecem em contraposição em nossos dias. Quem defende essa posição tende a ver a ética como a consideração racional do que é "justo", enquanto a moral se preocupa com o problema do "bem" desde uma visão de fé. Por outro lado, quando nos voltamos para a etimologia das palavras, isto é, para o sentido que tinham na origem, percebemos que tanto ética quanto moral significam a mesma coisa. Ética vem da palavra grega "ethos" e moral vem da palavra latina "mos-moris". Em ambas o significado é o mesmo: costume. daí que alguns estudiosos preferem tratar "ética" e "moral" como sinônimos. 

O teólogo Leonardo Boff pertence ao primeiro grupo e afirma: "A ética é parte da filosofia. considera concepções de fundo acerca da vida, do ser humano, do universo, e de seu destino, estatui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades (...). A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos" (Ética e Moral. A busca dos fundamentos, p. 31). 

O filósofo brasileiro Henrique Cláudio de Lima Vaz, em seu curso de Introdução à Ética Filosófica I, esclarece o seguinte: "Considerados, porém, em sua procedência etimológica, os dois termos são praticamente sinônimos e dado o seu uso indiscriminado na imensa maioria dos casos, talvez seja preferível manter essa sinonímia de origem e empregar indiferentemente os termos Ética e Moral para designar o mesmo objeto. A tentativa de conferir-lhes acepção diferente está ligada (...) à separação moderna entre Ética e Política e, mais geralmente, à cisão entre indivíduo e sociedade ou entre vida no espaço privado e vida no espaço púbico" (p. 12). 

Quem já esteve me ouvindo lembra de minha preferência pela posição de Lima Vaz. E você?

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Artigo: MÍDIA, TV, GAMES E CONTEXTO SOCIAL

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta

A legislação brasileira considera como criança a pessoa com idade entre zero e doze anos, passível apenas da aplicação de medidas protetoras quando comete infração (delinquência) ou se encontra em situação de risco, de acordo com o art. 101 da Lei n. 8069/90, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente. Na adolescência, por sua vez, enquadram-se as pessoas entre os doze e os dezoito anos, que são sujeitas à aplicação das mesmas medidas protetoras e ainda à aplicação de medidas socioeducativas (art. 112 do mesmo Estatuto da Criança e do Adolescente).

“Não creio que Caim tenha se inspirado na televisão ou em jogos de computador, para matar seu irmão Abel... ou que Nero tenha incendiado Roma por culpa de algum game”. A questão da influência da televisão ou dos games na conduta das crianças, especialmente levando-as a condutas violentas, é controversa. A maioria dos estudos assevera que crianças do sexo masculino tendem a imitar as ações violentas que veem na TV e em outras parafernálias eletrônicas. Tendem a ser mais complacentes com a agressividade e tendem a desenvolver outras formas de violência.

Além disso, tem-se observado que os meninos agressivos normalmente escolhem programas mais violentos e que há mais meninos adictos a esses programas que meninas. Porém, nem todas as investigações confirmam tais observações. Há estudiosos que atribuem o suposto impacto da TV e dos games como um auxílio à compreensão e interpretação da criança sobre o que aparece na tela, seja da televisão ou de um game.
Os games bélicos também são frequentemente relacionados com o desenvolvimento de condutas violentas. Outros opinam que não exercem qualquer influência. Outros ainda acham que tais jogos empobrecem a imaginação e ensinam conceitos belicosos. Há quem creia que estes jogos têm até uma função catártica ou terapêutica sobre o potencial agressivo natural das pessoas.

As atitudes competitivas (agressivas ou não) que são mostradas nesses jogos guardam relação com os adversários com quem se esteja jogando ou com o tipo de jogo que se utiliza e, apesar de estimularem a luta entre meninos (mas não entre meninas!), só se constata o aumento da agressividade durante ou imediatamente após o jogo. Essa agressividade parece não se manter em outras situações e nem repercutir em longo prazo.

Ter uma perspectiva decisória vaga para a identificação de games violentos e julgá-los como inaceitáveis podem trazer consequências imprevisíveis, pois quem acusa esses games e pede seu controle governamental o faz por precaução, mas repito, até hoje, não há provas contundentes sobre os malefícios desses games, e digo: muito mais perigosa pode ser a invasão da privacidade dos que jogam, o que me cheira a censura, cerceamento à liberdade da imprensa e outras coisas graves.

E qualquer coisa que lembra, mesmo de longe, a censura é uma monstruosidade e um atentado contra o pensamento, é um crime de lesa-humanidade. Acusar é muito fácil. Principalmente diante dos avanços que romperam a velha ordem mumificada. Tristes dos engessados. Eles estão mortos e não o sabem.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).


Fonte: http://blogdomarcelogurgel.blogspot.com.br

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O que é Teologia Moral?

Se aceitamos que a principal tarefa da teologia se caracteriza pela tentativa de compreensão e formulação da Revelação de Deus, a teologia moral emerge como a parte da teologia cujo objeto vem a ser justamente o aspecto moral dessa mesma revelação. Cabe, portanto, à teologia moral, a busca de uma apresentação adequada do caráter moral da mensagem revelada. Segundo Peschke: Ética cristã ou teologia moral é aquela parte da teologia que estuda à luz da fé cristã e da razão, as diretivas que devemos seguir para alcançar o fim último” (Cf. Peschke, Karl Heinz, Etica Cristiana I. Fondazione della Teologia Morale = Manuali 2, Urbaniana University Press, Roma 19993, p. 15).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Crer em Deus é algo irracional?



Há quem acredite ser possível provar a existência de Deus meramente por meios racionais. Outros negam tal possibilidade. Mas ao negá-la, necessariamente estão relegando ao reino do irracional a crença na existência de Deus? Seria realmente a fé em Deus um ato humano irracional? Com a palavra Pe. Libânio, reconhecido teólogo jesuíta falecido recentemente: "A fé não é rationalis mas rationabilis. Não é rationalis (racional) porque não procede a partir da evidência da verdade crida. Fé não é ciência. Não pode ser reduzida à natureza racional do conhecimento científico. Funda-se no testemunho de de Deus. Mas é rationabilis (razoável), porque é consentâneo, de acordo com a complexidade e profundidade da natureza racional do ser humano, o fato de amar, acreditar, esperar. Tais atos ultrapassam a racionalidade puramente verificativa, empírica das ciências. Vão além da razão, mas não contra a razão. Não brotam 'da razão', mas não se fazem 'sem a razão'" (João Batista Libânio, Eu creio. Nós cremos, p. 180).

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sede de Deus


"Mostra-me os teus caminhos, Javé, ensina-me as tuas veredas. 
Guia-me com tua verdade. Ensina-me, pois tu és o meu Deus salvador" (Sl 25,4). 


O desejo do salmista expressa por um lado a busca humana da vontade de Deus (Senhor, o que queres que eu faça? At 22,10) e, por outro, a intuição de que essa só pode vir da automanifestação do Eterno. Antes de tudo não somos nós que conhecemos a Deus, mas é ele mesmo que se dá a conhecer. É dele a livre iniciativa. O convite é que nos deixemos guiar por Ele. Lembremos que os caminhos de Deus não são antagônicos aos nossos. A vontade de Deus não se apresenta como uma usurpadora da liberdade humana. Por isso mesmo não convém apresentar a vontade do Senhor como se fosse um ato arbitrário. Parece ser uma ilusão humana a total compreensão de Deus, de seus projetos, de sua vontade. Não seria esse desejo um resquício do desejo de ser "como Deus" e conhecer os segredos da "árvore do bem e do mal"? (Gn 3,5). Mas, se Deus quis se autorrevelar, por que permaneceria "inacessível" às suas criaturas racionais? O "prescrutar" os caminhos do Senhor mais do que uma pretensão racionalista pode simplesmente manifestar nossa parcela de divindade que Ele mesmo nos fez participar ao nos doar "o sopro da vida" (Gn 2,7) e a nos querer "a sua imagem e semelhança" (Gn 1,26). Nossa compreensão dos mistérios de Deus pode nem ser completa, mas nem por isso ela se mostra desnecessária ou irrelevante. Assim também pensava santo Anselmo: "Não tento, Senhor, penetrar tua profundidade, pois de modo nenhum minha inteligência pode medir-se com ela; mas desejo compreender em certa medida tua verdade, que meu coração crê e ama. Não procuro compreender para crer, mas creio para compreender. Pois creio de tal modo que, se não cresse, não compreenderia".

Prof. Dr. Pe. Moésio Pereira de Souza, redentorista.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Saudação aos nossos leitores




Nova Iniciativa

O projeto do blog "Crer e entender" nasceu da necessidade de maior interação com os alunos dos cursos de Teologia moral fundamental e Sacramento da reconciliação e Unção dos enfermos da Faculdade Católica de Fortaleza. Mas, na verdade, esperamos que ele possa ir além disso. Ele surge como um convite para partilhar "as coisas da fé", sempre numa atitude de abertura ao diálogo, próprio daquelas pessoas que não têm pretensão de ser as detentoras da verdade. Aqui seus comentários são bem-vindos. Cresçamos juntos na meta de alcançar "a maturidade dos fiéis em Cristo". 

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