Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A legislação brasileira
considera como criança a pessoa com idade entre zero e doze anos, passível
apenas da aplicação de medidas protetoras quando comete infração (delinquência)
ou se encontra em situação de risco, de acordo com o art. 101 da Lei
n. 8069/90, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente. Na adolescência,
por sua vez, enquadram-se as pessoas entre os doze e os dezoito anos, que
são sujeitas à aplicação das mesmas medidas protetoras e ainda à aplicação de
medidas socioeducativas (art. 112 do mesmo Estatuto da Criança e do
Adolescente).
“Não creio que Caim tenha se
inspirado na televisão ou em jogos de computador, para matar seu irmão Abel...
ou que Nero tenha incendiado Roma por culpa de algum game”. A questão da
influência da televisão ou dos games na conduta das crianças, especialmente
levando-as a condutas violentas, é controversa. A maioria dos estudos assevera
que crianças do sexo masculino tendem a imitar as ações violentas que veem na
TV e em outras parafernálias eletrônicas. Tendem a ser mais complacentes com a
agressividade e tendem a desenvolver outras formas de violência.
Além disso, tem-se observado
que os meninos agressivos normalmente escolhem programas mais violentos e que
há mais meninos adictos a esses programas que meninas. Porém, nem todas as
investigações confirmam tais observações. Há estudiosos que atribuem o suposto
impacto da TV e dos games como um auxílio à compreensão e interpretação da
criança sobre o que aparece na tela, seja da televisão ou de um game.
Os games bélicos também são
frequentemente relacionados com o desenvolvimento de condutas violentas. Outros
opinam que não exercem qualquer influência. Outros ainda acham que tais jogos
empobrecem a imaginação e ensinam conceitos belicosos. Há quem creia que estes
jogos têm até uma função catártica ou terapêutica sobre o potencial agressivo
natural das pessoas.
As atitudes competitivas
(agressivas ou não) que são mostradas nesses jogos guardam relação com os
adversários com quem se esteja jogando ou com o tipo de jogo que se utiliza e,
apesar de estimularem a luta entre meninos (mas não entre meninas!), só se
constata o aumento da agressividade durante ou imediatamente após o jogo. Essa
agressividade parece não se manter em outras situações e nem repercutir em
longo prazo.
Ter uma perspectiva
decisória vaga para a identificação de games violentos e julgá-los como
inaceitáveis podem trazer consequências imprevisíveis, pois quem acusa esses
games e pede seu controle governamental o faz por precaução, mas repito, até
hoje, não há provas contundentes sobre os malefícios desses games, e digo:
muito mais perigosa pode ser a invasão da privacidade dos que jogam, o que me
cheira a censura, cerceamento à liberdade da imprensa e outras coisas graves.
E qualquer coisa que lembra,
mesmo de longe, a censura é uma monstruosidade e um atentado contra o
pensamento, é um crime de lesa-humanidade. Acusar é muito fácil. Principalmente
diante dos avanços que romperam a velha ordem mumificada. Tristes dos
engessados. Eles estão mortos e não o sabem.
(*) Professor Titular da
Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE,
da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores
Médicos (ABRAMES).
Fonte: http://blogdomarcelogurgel.blogspot.com.br